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MARIANNA | A medalha de ouro

31/07/2010

Foi em um final de tarde... início de noite,
daqueles dias em que fica claro até mais tarde...
ou que fica escuro bem mais cedo.

Estávamos todos na cozinha da casa da minha mãe, à espera da canja, no final do domingo.
Meu pai tinha tomado um copo de vinho e estávamos tranquilamente conversando, sentados à mesa. Não me lembro bem quem estava presente...
Éramos, provavelmente, 7 a 8 adultos e as crianças: as meninas à minha volta, o Vinícius bem pequeno, não sei, mas acho que o Gustavo era um bebê. Além de nós, os que moravam na casa, o Sérgio, meu pai e minha mãe.

Ela estava no fogão.
Meu pai veio sentar-se à mesa, à espera da canja.
Sem mesmo interromper a conversa, ele começou a falar e contou... como se estivesse contando para ele mesmo, com um sorriso nos lábios, sobre as lembranças de um dia distante, mas ainda muito vivo em sua memória.

Começou dizendo que, durante muitos anos, havia feito de tudo para conseguir ganhar uma medalha nas competições de remo. Mas, que, por mais que tivesse se esforçado, nunca havia conseguido.

Naquele dia, em que estava competindo com um skiff - barco de competição para uma pessoa só - as coisas passaram a ser diferentes. Ele disse que, assim que foi dada a largada, ele se concentrou ao máximo na marcação e no ritmo... deixando de prestar atenção a todo o resto.

Imagino o som do remo batendo na água, no compasso marcado...
Imagino a respiração ... o esforço dos músculos.
Imagino o barco cortando a água da represa... deslizando para frente... sempre em frente.
Quando, em um dado momento... como que saindo de um transe... ele volta à realidade e olha em torno.

        Ele disse que se assustou muito.
        Não viu ninguém à sua volta. Estava só, no meio de toda aquela água... seguindo em frente, não
        avistando ninguém, pensando que, mais uma vez, havia ficado para trás.
        Teve esta certeza, por uma fração de segundo.
        Quando, olhou para frente e viu a faixa de chegada.
        Emocionado, soube que tinha vencido.

Esta foi uma das poucas histórias que escutei do meu pai.
Inesquecível!

Como se pode ouvir uma história como essa...
carregada de tantos sentimentos e significados?

Penso que nenhum de nós, naquele momento, conseguiu dizer alguma coisa para ele.
Falamos algo que nos veio à mente, mais nada além disso.

Não nos damos conta da importância de cada segundo de nossa existência, segundos preciosos que deixamos passar.
Diante de uma “vivência compartilhada” como esta, não estamos preparados para escutar, compreender e acolher.

No entanto, nos momentos difíceis da minha vida... coloco-me no lugar do meu pai.
Lutando ombro a ombro com as dificuldades para atingir um objetivo...
perseverando, acreditando, não importando quanto tempo possa levar para conquistar uma medalha... real ou metafórica...

O ensinamento ficou.
Ensinamento como aquele da narrativa do livro de Jó.
Como Jó,
meu pai sempre acreditou...
meu pai me ensinou a acreditar...

Suely Laitano Nassif



 
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