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MARIANNA | Usando o chapéu do vovô

26/06/2010

Nessa época, ela morava na casa da rua Apeninos. Tinha um pouco mais do que dois anos. O primeiro irmãozinho tinha acabado de nascer.

Esta é uma casa cheia de lembranças, marcadas pelo céu azul intenso do quintal, que contrastava com o interior escuro da casa e seu assoalho de taboa larga... usadas como piso nas casas antigas. Assoalho sempre bem encerado, cheirando a limpeza e comida gostosa.

Ela morava com os seus pais, numa daquelas casas antigas... que ainda existem na rua Apeninos. Eram duas casa, uma em cima da outra.
Os avós moravam na de cima e os pais na de baixo. As casas se comunicavam por uma escada de cimento rústico, bem lavado... na lateral externa da casa. A escada tinha dois lances, separados por um patamar, como um terraço que dava para o Tênis Club Paulista, que ficava na rua debaixo. Neste patamar ficava o “quarador” de roupa... feito, como se usava naquele tempo, com uma folha de zinco, cheirando a água e sabão... cheirado a roupa limpa aquecida de sol.

Esta é uma casa cheia de lembranças!
Foi lá que Mariana viu chegar o rádio. Um radio grande de válvula que veio ocupar um lugar central na sala da casa dos pais. Na mesa redonda... com toalha de veludo, adamascado. “O que seria aquilo?”, pensou Mariana.
A lâmpada do lustre da sala... ganhou uma peça diferente... e o rádio foi ligado no lustre.
Quanta admiração!
Logo, Mariana deixou de lado a novidade e seguiu com sua vidinha, explorando tudo à sua volta.

Foi lá que viu chegar seu irmãozinho de olhos azuis.
Foi lá que Mariana, em uma certa manhã de sol... estava com seu avô na casa de cima, provavelmente porque sua mãe estava ocupada com o irmãozinho... Como fazia todos os dias.
Estava ela sentada em sua pequena cadeira de balanço... vendo o avô tomar café... Tinha esse costume, ficava ali com ele conversando, ouvindo historias, musica... que a vaziam devanear...

Em um certo momento...
Talvez porque houvesse descoberto o chapéu do avô, pendurado na chapeleira...
Talvez porque o avô quisesse criar uma nova brincadeira...
Surgiu a brincadeira de andar com o chapéu do vovô...
que coisa divertida!!!
O chapéu era grande... e ficava caindo de um lado e de outro. Podia ver só para baixo... por ora tudo ficava mais escuro... sem conseguir ver nada a sua volta.

Estava se achando demais!!! Então veio a idéia... queria ir mostrar para a mãe...
E lá foi ela, equilibrando o chapéu... descendo as escadas... um, dois, três degraus... podia ver o quaradouro com as roupas secando ao sol. Podia ver as bolinhas de um lado para o outro dos jogadores de tênis... lá embaixo. Quando o chapéu veio pra frente... cobriu a visão. Atrapalhada... tentanto colocar o chapéu do jeito que tinha gostado, distraiu-se. Não via mais nada, não viu o próximo degrau...tropeçou e caiu.

O chapéu ajudou na queda... a não se machucar demais. Ela bateu com o rostinho no zinco e se cortou.
Foi um grande reboliço... todos correram... Ela ficou com uma pequena marquinha bem debaixo do olho, que tem até hoje... agora no meio da face.

Mariana (por Suely Laitano Nassif)

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Comentários

  • O chapéu do vovô é muito mais do que um chapéu.
    Junto com a peça de vestuário que instiga Mariana, vem, também, a associação com o avô, uma pessoa próxima, que devia lhe despertar sentimentos importantes. Colocando o chapéu do vovô, Mariana provavelmente se sentia como uma pessoa mais importante, mais adulta. Como dizia Derrida, um objeto não é apenas um objeto, mas traz consigo todos os significados que o observador lhe atribui com base nas vivências em que aquele objeto significou. Desde criança, aprendemos que os objetos carregam um pouco dos seus donos e possuem uma simbologia nas práticas sociais onde são utilizados. Colocar o chapéu, portanto, é um ritual. E, hoje, a marca que ela carrega no rosto deixa mais viva sua lembrança dessa história tão singela...

    Enviado em 11/02/2011
    Renata Quirino de Sousa
    01/06/2014 13:04
  • É difícil esse aprendizado da infância de que os objetos podem ser perigosos. É que junto com o uso deles tem a nossa coordenação em andar, falar, correr, levantar os braços que estão sendo postos à prova todo dia, toda hora. Lembro que uma vez mordi um copo como se fosse de plástico. Ele era de cristal e fiquei com um baita caco de vidro na boca e inclusive cortou meu lábio, que tem uma pequena cicatriz até hoje. Todo mundo à mesa conversando parou assustada. Minha mãe levantou um olho enorme para mim. - Não se mexa. Segurei até a respiração. E papai veio e tirou o vidro cortante da minha boca e o envolveu em um guardanapo. Já havia sangue no vidro. Uma coisa impressionante mesmo. Portanto, uma lembrança puxa a outra.

    Enviado em 20/07/2010
    Ana Lúcia Brandão
    01/06/2014 13:03

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