Psicóloga responsável: Suely Laitano Nassif | CRP: 06/31790
11 5542-6615   |   contato.laitos@gmail.com

   Meu cadastro

Todas as postagens

Turma da MARIANA | Quem canta os males espanta

29/04/2014

As salas do prézinho do Batista ficavam do lado esquerdo do portão cinza alto, da escola. O portão lateral da Ministro de Godoi. Eu me despedia da minha mãe e ia toda contente de uniforme e material para a minha classe. Eu passava pelo pátio com uma casinha de madeira rosa muito linda, onde o Divonsir beijava a Silvia escondido de todos (escondido? – Foi quando criei uma paródia sem saber o nome com a musiquinha: “Eu ontem fui à festa na casa do Divonsir / Juro não gostei dos modos da Silvia / Toda assanhada / Nunca vi igual / trocava mil beijinhos com Divonsir no quintal”, a música fonte contava do Bolinha e a Glórinha dos quadrinhos), pela piscina do pré, que tinha pés de café cujos galhos carregados batiam perto da água, que a gente pegava para fazer comidinha. Aí eu corria para o pátio interno e entrava na classe.

A minha classe era linda, rodeada dos desenhos mais coloridos e bonitos do mundo, feitos com guache, que deixava aquele cheirinho gostoso no ar, que se misturava ao de cera passada no chão. Eu tinha ainda na classe um colega que sabia ler. Ele era mais velho que eu, mas não tinha idade suficiente para passar para o 1º ano. Nunca consegui entender essa história direito. Eu também passava por algo parecido porque fazia aniversário no meio do ano.

Era para ele que a tia Cleusa pedia para entregar os cadernos de caligrafia ou de desenho. Ele dizia o nome em voz alta, a gente levantava e ia pegar o caderno. Era um momento sagrado. Eu achava ele o máximo, Flávio Paoletti era seu nome. Eu o admirava tanto, que acho que essa admiração se espichou até hoje, porque ainda acho gente estudada a coisa mais interessante do mundo. Eu andava tão feliz!

Demorou muito, mas muito tempo mesmo para eu entrar na escola. Sabem, tempo para criança é diferente de tempo para adulto. O que a gente acha muito, adultos acham pouco, tipo quando conversam coisas chatas entre si. Quando a  gente acha pouco, tipo quando está brincando na casa de alguém e te chamam para voltar para casa, os adultos acham que já passou muito tempo. Vai entender. Bem, eu ficava feliz todo dia de ir para a escola. Lá eu brincava com muitos colegas e amigos, eu brincava no recreio no parquinho, tinha um tipo para-fita só que com correntes de ferro e uma alça para pegar. Você corria segurando a alça, o gira-gira subia com a gente pelo ar. O problema é que a força era tanta para se segurar que eu vivia com bolhas nas mãos. Mas a liberdade do vôo era infinitamente maior que o da dor. E ainda brincar de roda com a professora de Educação Física.

E cantar. Eu cantava dentro e fora da escola. Vivia cantando. Meu avõ, o Fua me ligava todo dia para saber como tinha sido a escola. E vira-e-mexe ele me pedia para eu cantar para ele. E eu cantava: “Eu ontem acordei com saudades de você / Sentei naquele banco que em que você me ofertou / a rosa mais bonita que você encontrou / A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim”. Ou “Eu estava à toa na vida / O meu amor me chamou / pra ver a banda passar / cantando coisas de amor”. Ele ficava também contente e me prometia que quando fosse lá a gente ia comer aquele “Romeu e Julieta”, que só ele sabia fazer. Eu achava goiaba com queijo o manjar dos deuses. E de acompanhamento um refrigerante, que ele chamava de “bebida gasosa de guaraná”, coisa que eu só tomava na casa dele, nos almoços de domingo e na casa de vovô Dedé, com bolo de fubá.

A gente, pelo menos eu, cantava as letras de música dos festivais da canção. As crianças de hoje cantam e dançam “Beijinho no ombro”. Vocês já prestaram atenção na letra? Hum, hum. O visual é de Lady Gaga. Lady Gaga é toda colorida, as crianças a amam como a gente amava a Elke Maravilha, a primeira Lady Gaga do Brasil, com quase meio século de adiantamento. Memória é aquela lembrança curta, em geral, quando se fala de povo brasileiro...

Tucha (por Ana Lúcia Brandão)

+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

"Se você gostou, faça um comentário.
Se você tem outra história pra contar, escreva para nós:
contato@laitos.com.br.ela poderá ser publicada em nosso blog"



 
Categoria

Tags


O que você acha?

Categorias


Tags


Arquivos